Com quem eles falam? (Questão Natalina)


Como bom cristão (mesmo sendo um péssimo católico), assisti a Missa do Galo, transmitida pela Rede Globo de Televisão. Diante de toda aquela imponência, aquela beleza teatral, onde um papa, pouco carismático, cercado de cardeais em vestes vermelhas cumpria oficiosamente o rito da Vigília de Natal.

Tudo conforme o esperado até o momento da homilia. Naquele instante específico tive um “insight” , que se me apresentou como pergunta: “Com quem eles falam?”. Comecei em minha mente a rastrear os povos, as classes sociais e as culturas, depois recordei o Evangelho. Ao recordar a narração evangélica senti a distância do discurso papal e a vida prática dos povos.

Até onde sabia, a Criança Divina nasceu num estábulo. Envolto em paninhos foi colocado numa manjedoura. Aquele menino veio de modo pobre para os pobres, revelando aos pequenos o que ficaria sempre oculto aos grandes. Nasceu na miséria e miseravelmente viveu. Em sua vida, uma mensagem de paz plantou. Entretanto, sua mensagem não foi ouvida.

De repente sua mensagem é pregada de modo imponente, de cima de um trono, por homens vestidos de modo esplendoroso. Mas aquela criança não teria vindo para os pobres? Não era Jesus, o filho do carpinteiro? A velha pergunta ficou latente durante toda a homilia. “Com quem eles falam?” Não podemos maldizer a linda catequese que o papa proferiu. Contudo, não vi a concretização da mensagem da Criança Divina. Não havia pobres na celebração, os amigos íntimos do homenageado não foram convidados.

Fiquei assustado ao ver que representantes de diversos continentes estavam lá, que houve leituras em várias línguas européias, mas que ninguém sequer mencionou a pobre e sofrida África. Os Europeus se satisfazem com a rica e poderosa Romana Igreja, com lindos ritos mecânicos, que pouco dizem às outras culturas, como a africana.
Aquele Cristo da linda mensagem papal carrega os traços da cultura que se considera evoluída. Onde a pobreza é somente um adorno emotivo. Lá, comovidos com o presépio em gesso, todos cantavam a alegria da mesa natalina, onde a fartura impera. Mas e o cristo pobre? Ah, este ainda vive entre a pobreza. E ele recebeu um brinquedo velho, uma doação para que seu natal fosse um pouquinho melhor, uma peça de roupa usada. Ou seja, recebeu das sobras. E ainda não participou daquela apoteótica celebração.
Após a Missa do Galo não consegui responder a minha indagação. Não descobri qual era o destinatário daquela linda mensagem. Infelizmente ficou claro quem não recebeu a mensagem, eu mesmo acho que não a recebi. Espero encontra-la na simplicidade das poucas coisas e na pureza dos pobres, pois deles é o reino; na dor dos aflitos, pois serão consolados; entre os mansos, pois herdarão a terra; no gesto dos misericordiosos, pois encontrarão misericórdia; com os puros de coração, pois estes verão a Deus.

Quem tem o controle?

A infelicidade humana está associada a dois agentes principais: o medo e a ansiedade. Estes elementos convivem conosco criando mecanismos de defesa e destruição. Ou seja, eles são essenciais a nossa sobrevivência, mas também são causadores da infelicidade.
O medo gera a ansiedade e a ansiedade gera o medo. Medo e ansiedade formam um conjunto cíclico, onde um gera e propaga o outro. Quantas pessoas sofrem diariamente com o medo de perder o que amam. Estão mais preocupados em defender o que presumem possuir do que usufruir daquilo que lhes é ofertado.
A sensação de perda gera a ansiedade e a necessidade de defesa. Quanto mais tentamos defender o que temos, mais distantes estamos de nossa felicidade. Pois, deixamos de viver em função de nós e passamos a viver em função de nossas posses, sejam materiais ou afetivas.
Somente quando possuímos a liberdade diante das posses e as utilizamos com a consciência de que tudo que temos nos é dado como concessão, percebemos que o medo é em vão.
Temos medo o futuro. O que pode acontecer? Como será? Estamos constantemente tentando nos esquivar das dificuldades que virão. O medo da morte está em cada um gerando a imensa ansiedade.
Para vencer o medo é preciso encarar a realidade, tal como ela é. É preciso saber que o controle do universo não pertence ao homem. Os pais criam os filhos sonhando com um ideal, imaginam que serão pessoas e destaque, mas com o passar do tempo, os filhos seguem outro caminho. O agricultor estende suas plantações a fim de colher mais, depois de todo o trabalho o granizo vem acaba com sua produção. O investidor coloca seu dinheiro em fundos para render mais, de um momento para o outro o mercado muda e todo o dinheiro perde o valor. Logo de assalto vem a pergunta: “O que fazer?” ou “Onde foi que erramos?”.
Quando não sabemos o que fazer, não devemos insistir, cabe a nós aguardar. Quanto ao erro, erramos quando acreditamos que as coisas são lógicas e acontecem numa seqüência prática de fatos, numa articulação única e metódica de “se isto, então aquilo”. Todos os medos e ansiedades surgem a partir de nosso método estático de pensamento, pois sempre esperamos que os fatos ocorram na seqüência da lógica, porém sempre que algo tende a fugir do esperado iniciamos nosso processo de medo. Vemos a necessidade de aprender a esperar sem esperar. Quando nossa consciência se abre para este modo de pensar, conseguimos perceber a vida de diversos modos, sem a lógica pragmática, descobrimos quão suave e bom é viver.

Poder pelo poder




Existe em nós a ilusão do poder. Esta imaginação faz com que percamos muito tempo criando mecanismos e articulações para conseguirmos nossos objetivos. Imaginamos que após criarmos uma grande rede de relacionamentos, com inúmeras pessoas subordinadas a nós, teremos a felicidade.
Esta ilusão faz-nos perder anos tentando eliminar nossos inimigos. Mas o único poder que temos está na simplicidade das coisas que fazemos. Quando nos colocamos na luta pelo poder não conseguimos perceber as pessoas que nos cercam, passamos a tratar cada uma como degrau ou como empecilho.
A luta pelo poder cria e desata laços como se formam e desvanecem as espumas de sal na beira da praia. Aqueles que são amigos se tornam inimigos mortais em alguns minutos. O mais odiado adversário aconchega-se no quintal do mais poderoso. Brigar pelo poder é o movente dos homens fracos.
Ficamos impressionados com aqueles que alcançam altos títulos. Os mais fracos realmente necessitam de altos títulos para serem amados ou para serem percebidos. Não suportam os simples, pois estes além de incomodar pelo silêncio são capazes de coisas maiores.
Aqueles que brigam pelo poder se deparam cedo ou tarde com o isolamento, são respeitados e ovacionados, publicamente todos os louvam, mas intimamente são odiados. São odiados pelo modo com que se relacionam. A sede por possuir afasta os amigos verdadeiros e cria relações circunstanciais. São respeitados por serem temidos.
Porém, quem não busca o poder, o alcança sem perceber. Torna-se mais poderoso que um grande rei, pois sua grandeza está no amor. Quem ama é amado. O poder de quem ama provém de seu modo simples de agir e ser. Este não é temido, mas amado. Quando alguém é amado tem o domínio sobre o inaudito, é capaz de arrastar uma multidão pelo simples exemplo dado. Conhecemos Mahatma Ghandi, Tereza de Calcutá, Martin Luther King e tantas grandes personalidades que deram uma motivação ao mundo por seu exemplo.
O poderoso usa de sua força, de sua oratória, de seus artifícios. Porém o poderoso fica preso a seus subordinados. Quem nunca ouviu falar de um administrador que não pode mexer naquele subordinado incompetente porque ele sabe muito? Todo poder é volúvel, pois está suspenso em pilastras de vidro. A qualquer momento tudo pode vir ao chão.
No caminho esotérico temos a consciência destas escolhas. Aprendemos que o poder vale muito pouco e que seremos amados pelos amigos não pelo que possuímos, mas pelo modo com que oferecemos nossas vidas.

Desapego



Ouvi uma pessoa dizendo: “Você é louco por pensar desta forma!” De imediato surgiu uma resposta em meu coração: “A graciosidade da vida só é concedida aos loucos!”
Tudo que temos é mera concessão, nada nos pertence e de nada somos donos. Até mesmo a graciosidade da vida é concessão. Às vezes, imaginamos que possuímos ou que temos poder sobre algo, ou ainda que somos dotados de uma força controladora. Contudo, isso não passa de ilusão, de vaidade (do latim “vanitas”, que significa um punhado de vento), pois o universo se oferece a nós como algo concedido.
Se nada nos pertence, por que agimos como senhores de tudo? Como se fôssemos mais ou maiores? Quando iniciamos um processo de acúmulo, onde guardamos mais e mais, pelo simples fato de guardar, estamos nos fazendo proprietários de algo que não é nosso.
Como toda concessão, precisamos cuidar muito bem daquilo que recebemos. De maneira que quando formos devolve-la ao dono verdadeiro, o concedido esteja em perfeitas condições. Quem não conhece o Evangelho dos talentos? Onde cada um ganhou um pouco, alguns utilizaram o que receberam e fizeram multiplicar, mas um deles guardou, numa postura acumulativa, e voltou para devolver o que havia recebido. Aquele que guardou para si foi condenado.
O desapego consiste em “reconhecer as mãos de quem nos criou”. Isto é, dar o que é de direito de cada um. Na tradição religiosa tudo é concedido com a finalidade de multiplicar, de dar a todos e de partilhar, de maneira que todos participam da mesma mesa e dos mesmos dons.
Quando os monges carregavam algum livro, logo na sua contra-capa vinha a inscrição: “Para o uso simples de ...”. Aquele livro tratava-se somente de um instrumento, que não tinha um dono, mas simples usuários. Nesta tradição, nunca se oferece daquilo que está sobrando, como fazem os que acumulam, mas daquilo que se tem. A atitude de dar das sobras mostra que o acúmulo está acima do ser humano. Ou seja, na compreensão daquele que se apega é mais importante guardar que partilhar.
Por que motivo o apegado se dedica ao acúmulo? Simplesmente para satisfazer sua ilusão de segurança. Ele crê firmemente que a prosperidade reside em recolher e em ajuntar mais e mais. Este acúmulo gera a desigualdade, a fome e a miséria. No caminho esotérico, o desapego é fundamental. É preciso saber que somente aquele que consegue suspender as vaidades, os desejos e as vontades, é capaz de fazer um caminho reto. Portanto é preciso ter liberdade para ser, sem apegos e necessidades, é preciso ter a capacidade de abandonar tudo que pode gerar o apego. “Aquele que não for capaz de abandonar sua casa, pai, mãe e irmãos por causa do reino, não é digno de mim" (MT 10,37).

ORAÇÃO


No caminho espiritual, esotérico, a oração determina a passagem do homem velho para o homem novo. Contudo é preciso saber orar, não são as muitas frases ou palavras nem a repetição mecânica que garante esta passagem. Somente quando descobrimos o Deus que habita dentro de cada um, tornamo-nos capazes de orar com liberdade. A Oração passa de uma repetição inútil para uma fonte de vida eterna.
Aqui recordo as palavras de Santo Agostinho: “Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tu estás dentro de mim, mas eu estava fora, e fora de mim te procurava; com o meu espírito deformado, precipitava me sobre as coisas formosas que criastes”. Somente quando permitirmo-nos procurar o Senhor dentro de cada um de nós, poderemos nos deparar com a verdadeira oração.
Fora de nós, como Agostinho apresenta, podemos encontrar os seres que o Senhor criou. Mas dentro, em nosso íntimo reside a semente do próprio Deus. Os hindus têm como cumprimento a palavra “Namastê”, que significa: “Deus que habita em mim saúda Deus que habita em você”. Este modo de cumprimentar não remete à existência de deuses diferentes, mas sim à essência divina que é comum a todos os seres.
Orar é, portanto, encontrar a essência divina que cada um de nós possuímos. Interessante é o modo utilizado por Cristo para nos demonstrar como se dá este encontro. Encontro que não acontece no burburio das palavras, nem no palavrório de muitas pessoas. A oração se dá no silêncio, na ausência das muitas coisas, na companhia da mais profunda solidão e silêncio. “Quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas para serem vistos pelos outros. Mas você, quando orar, vá para o seu quarto, feche a porta e ore ao Pai, que não pode ser visto. E o Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa. Nas suas orações, não fique repetindo o que você já disse. Deus não o ouvirá porque faz orações compridas. Pois, antes de você pedir, o Pai já sabe o que você precisa”.
A oração não precisa ser piedosa, lamuriosa ou toda cheira de adornos, ela deve ser simplesmente um frutífero diálogo com Deus, onde apresentamos a ele nossa vida tal como ela é. Deus não precisa de nossa oração, nem nos amará mais por orarmos, mas nós precisamos de nossa oração.
Orar é uma dádiva. Mesmo conhecendo tudo, o Pai nos dá o direito de lhe contarmos. Ele nunca nos abandona em nossos sofrimentos e necessidades. O Pai não só sabe como convive com nossas necessidades, daí que travar o diálogo com Deus nos permite perceber na Oração a fonte para o equilíbrio humano. “Quem com pureza de coração vive, adora essencialmente Deus em si mesmo.”
Namastê!

Literatura Hermética

No caminho esotérico a literatura hermética se apresenta como inspiração constante. É preciso ter contato com esta literatura para adentrar na tradição do profundo conhecimento apresentado por Hermes, o Trimegisto.
Na grande obra intitulada “A tábua da esmeralda”, Hermes apresenta a lei que rege todo o universo. Esta lei diz: “O que está embaixo é como o que está em cima, e o que está em cima é como o que está em baixo. E como todas as coisas vêm e vieram do Um, assim todas as coisas são únicas por adaptação”. Daí vem o termo “universo”, onde o “uno” vai irrompendo em modos diferentes, chamados de “verso”. Na medida em que o uno vai se desdobrando vão surgindo as coisas, os versos.
Nisto percebemos que há uma só lei que rege todo o universo, esta lei é única para todos os seres, de modo que tudo que se dá lá fora, acontece aqui dentro.
Numa visão mais prática, quando nos deparamos com o sistema solar, percebemos um núcleo (Sol) que sustenta todo um sistema de corpos que giram ao redor dele (planetas). Se partirmos para uma visão microscópica, nos deparamos com o átomo, onde há um núcleo que sustenta uma série de elementos (elétrons) que giram ao redor dele. Podemos perceber a reprodução do mesmo sistema, tanto numa esfera macroscópica, quanto microscópica.
Assim, em poucas palavras bem concentradas a literatura hermética se dá. Para o hermetismo não são necessárias muitas coisas, muitos textos ou palavras, o que realmente importa é a concretez de cada elemento. Ou seja, basta uma palavra para que toda a compreensão venha à luz. Assim, num simples toque irrompe alegremente a sabedoria.
Neste modo de entender, podemos chamar a sabedoria de interpretação. Somente o sábio consegue desvendar os segredos do hermetismo, interpretando, de modo claro e conciso, cada um dos elementos que residem no obscuro das palavras e oráculos.
Os textos bíblicos são repletos de exemplos herméticos, principalmente nos escritos de João, onde o hermetismo se apresenta como circularidade. Nisto recordamos Heráclito que diz: “Tudo se reúne na circunferência do círculo”.
O Evangelho de João começa da seguinte forma: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. E o Verbo se fez carne e armou sua tenda entre nós”. Com olhos bem afinados e a percepção aguçada podemos perceber a circularidade hermética do texto. Pois uma frase diz todo o mistério da fé cristã, onde uma palavra, promessa de Deus, que estava em Deus e era o próprio Deus, num dado momento se faz carne e passa a habitar como forasteiro o nosso mundo. A simples união de poucas palavras conta toda a história da salvação do homem, a isso damos o nome de hermético.

“Non multa, sed multum”

(não muitas (coisas), mas muito (intenso)


Dando continuidade aos temas propostos, vamos lentamente adentrando no modelo esotérico de estudo, aqui chamaremos de “Studium”, pois acena para a dedicação plena para um fim, para um profundo amor. Neste modo de estudo vale recordar o provérbio latino, “non multa, sed multum”. Ou seja, não são as muitas coisas, a infinidade de saberes ou a quantidade de dados, que definem o estudo, mas a profundidade de cada uma das realidades. Uma única busca, intensa, profunda, o único necessário e essencial. O esotérico, em seu caminho, busca por uma única perfeição. O saber que se remete ao poder, ao domínio do mundo e dos entes, quer “multa”. O espírito, no que condiz ao “studium” diz o “multum”. Assim, bem assentado no que é seu, o esotérico dedica sua vida com graça e plenitude àquilo que lhe é próprio, a intensidade das pequenas coisas.
Podemos sentir na profundidade dos medievais a força propulsora deste bem fazer. De modo que, para a compreensão moderna pouco fizeram, pouco construíram, mas num entendimento de ”Studium” muito fizeram, pois foram perfeitos e nos mais insignificantes detalhes. Daí que um monge podia entregar sua vida à cópia. E ali, sobre aquele cavalete, passar toda a vida fazendo pouquíssimas cópias, desenhando milhares de iluminuras num único texto. Pois, o mais importante no trabalho é a perfeição alcançada.
Então para compreender este mundo esotérico é necessário ser iniciado nele. A iniciação acontece no âmbito do coração. Não são os dados, histórias ou rituais, que garantem este primeiro passo, visto que ele se dá no escondido, onde ninguém tem acesso. Lá, no íntimo, começamos a ouvir um burburio que se intensifica e se concretiza num novo caminho, uma nova forma de ler o mundo. A partir deste primeiro passo conseguimos construir a intensidade nas pequenas coisas. Fernando Pessoa compreendeu muito bem este processo, onde a grandeza se dá pela disposição à intensidade que se apresenta em tudo como inteireza do ser: “Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive”.
A iniciação precisa ser acionada, isto pode acontecer a partir de fora, pela convivência com um mestre, ou a partir de dentro, por uma iniciativa própria, em decorrência do contato com o mundo. A garantia da iniciação está na disposição do discípulo. O mestre não garante a iniciação, mas pode, a partir da experiência própria, auxiliar no primeiro passo no caminho do discípulo.
No esoterismo a quantidade de informação não é importante, pois para iniciar este caminho é necessário a completa superação de nossas seguranças. Os verdadeiros artistas e os grandes poetas compreendem muito bem isto.
O conhecimento, por sua vez, garante o primeiro passo. Conhecer quer dizer “nascer com”, “nascer novamente”, “re-nascer”. Assim, para iniciar o processo é preciso re-nascer, assumir a vida numa nova ótica. Para Jesus Cristo, quem não nascer novamente não poderá ver o Reino de Deus. Este re-nascer tem a ver com uma nova leitura do mundo, pois como diz o Nazareno: “O Reino já está no meio de vós”... “e somente quem tiver ouvidos para ouvir, ouvirá”...

Conhecimentos Esotéricos

Qualquer revista ou jornal que abrimos, encontramos um espaço destinado ao horóscopo, às previsões e até à magia. Entretanto, em nossa época, todos estes elementos aparecem na superfie dos acontecimentos. Surgem como previsões mágicas ou extraordinárias, todavia o esoterismo fala da vida ordinária, do trivial, do dia-a-dia.
Às vezes, nos colocamos a discutir sobre estes elementos, porém nossa conversa se concentra na afirmação ou na negação dos mesmos. Somos tão medíocres que nos damos ao luxo de acreditar ou não, e ainda condenar os que pensam de forma diferente. Ou seja, mantemo-nos na superficialidade de nosso EGO, sem adentrarmos naquilo que o esoterismo tem de mais precioso e quer nos mostrar.
Contudo, vemos pulular inúmeros pseudo-terapeutas que tentam usar dos milenares conhecimentos esotéricos como fonte de renda. Infelizmente, estes nada entenderam e nada fazem a não ser transformar a sutileza do divino num comércio bruto e inócuo.
Na Grécia antiga irrompem dois modos de conhecimento: o “exo-térico” e o “eso-térico”. O saber exotérico tratava da sabedoria trivial, daquilo que pode ser ensinado ao grande público, das coisas que podem ser ditas e discutidas com todas as pessoas, sem necessidade de uma iniciação. Todavia, o conhecimento “esotérico” é o aplicado aos discípulos, àqueles que estavam mais próximo do mestre. Este ensinamento oferecia um certo entendimento do mundo e das coisas, de modo mais profundo e secreto. Os textos do Evangelho têm muitos exemplos de conhecimento esotérico, principalmente quando Jesus utiliza a frase: “Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça.” Ou seja, ele não fala para todos, mas somente àqueles que têm os ouvidos afinados, àqueles que estão aptos para ouvir.
O esoterismo só pode ser oferecido aos que têm o ouvido atento, aos que ouvindo podem escutar, e escutando conseguem por em prática. Deste modo, muitos até têm contato com as palavras de mestre, mas por estarem na dinâmica do grande público jamais a colocarão em prática. Em Coríntios 13 podemos ver, no texto de Paulo, a dinâmica desta instrução: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o sino que retine em vão”. Sem esta disposição todo conhecimento formal, toda ciência, toda matemática, para nada serve, ao contrário somente ocupa espaço.
Segundo Paulo, existe um acionador para o conhecimento esotérico, somente quem ama tem acesso a este saber. Portanto, não basta ter ouvidos é preciso saber ouvir. Todo empenho do esoterismo está em mostrar aquilo que realmente somos, sem as aparências criadas. Em Jesus todo este saber era exposto a cada fala, em cada momento, porém somente quem tem os ouvidos afinados podem compreender o segredo de sua mensagem.
Nas próximas edições estaremos visitando diversos modos do conhecimento esotérico. Assim, poderemos entender um pouquinho mais sobre nossa existência humana na terra e sua relação com o sagrado. Porém, somente quem tiver os ouvidos afinados poderá participar desta discussão.

Gentileza gera Gentileza

Podemos chamar de gentileza a atitude nobre, daquelas poucas pessoas de boa linhagem, que antes de tudo sabem amar a vida e com graciosidade transmitem este amor a cada gesto.
Gentileza fala da liberdade que temos para o amor. Somente os humanos são capazes de ter consciência de sua gentileza. A natureza é gentil por si. O sol nasce por puro amor e dom, a chuva caí em sua beleza e simplicidade, gentilmente as árvores crescem e a brisa sopra. Quando falamos da gentileza nos remetemos ao lugar de cada um no mundo, como que bem assentado e com o respeito que lhes cabe.
Das grandes pessoas que fazem a história de nosso país, queremos destacar o Profeta Gentileza. Para aqueles que não ouviram falar dele, deixamos alguns traços da história do homem que só quis disseminar o amor pelas ruas do Rio de Janeiro.
Seu nome de batismo era José Datrino, o centro de todo o seu ensinamento era “Gentileza gera Gentileza”. A partir dos anos 80, depois que o fogo consumiu o circo em que vivia, o Profeta começou a pintar diversos painéis nas pilastras do Viaduto do Caju. As mensagens eram coloridas em verde e amarelo, todas propondo uma crítica ao mal-estar vivido pela humanidade. Estes painéis ofereciam a gentileza como solução para todo o sofrimento gerado pela desarmonia e desamor.
Após sua morte, a prefeitura do Rio mandou pintar de cinza as pilastras, cobrindo os murais do profeta. A reação da sociedade foi instantânea, logo surgiram movimentos pró-Gentileza. Um dos movimentos mais conhecidos foi o da MPB, com a cantora Marisa Monte, na letra da canção com o nome do profeta. A movimentação da sociedade obrigou o poder público a restaurar a obra do profeta.
O ensinamento de amor, proposto por Gentileza, tenta direcionar a humanidade para um novo momento, onde a pureza do ser humano pode ser realçada e a alegria da existência se apresenta de modo valoroso.
Ser gentil é viver e proporcionar vida. Somente na medida em que amamos a vida podemos viver livres do sofrimento, proporcionando amor aos outros. Por isso, amor é a mola propulsora da gentileza. Assim, em cada painel o profeta realçava em cores e formas a palavra amor, sempre repetindo inúmeras vezes suas letras.
Nada diferente do ensinamento de Cristo, que abandona todos os textos e coloca de lado até o decálogo de Moisés, para simplesmente dizer: “amai-vos uns aos outros”.A sociedade atual é sedenta por amor, somos carentes deste sentimento, pois direcionamos nossa vida somente em direção ao material. Porém, o material não supre a maior lacuna de nossa existência, a incerteza do futuro. Esta incerteza faz com que ajamos como rolos compressores capazes de destruir tudo que se apresente entre nós e nosso objetivo. Contudo, com o tempo nosso corpo e nossa psique começam a cobrar por nosso desamor e falta de gentileza com a vida. Surgem, como conseqüência, a depressão, o desespero, o sofrimento, as dores e doenças. Tudo isso pode ser evitado se não esquecermos a proposta do profeta: “Gentileza gera gentileza”, do mesmo modo que o amor gera a felicidade.