Dinheiro de ninguém



No que diz respeito aos bens públicos, o dinheiro é o mais cobiçado, o mais burocratizado e o menos organizado. Toda burocracia tem uma única finalidade dificultar o entendimento laico e facilitar o acesso de quem está por dentro dos tramites internos.
Dificilmente um desapercebido saberá ler uma peça orçamentária. Entretanto, eles, mesmo sem ter capacidade intelectual para tanto, têm a capacidade de utilizar deste valor com liberdade e autonomia, sem a necessidade de tantos meandros.
O dinheiro público acaba sendo utilizado como dinheiro de ninguém. As formas de arrecadação, que surgem com finalidade determinada, em pouco tempo são desviadas para outros objetivos e, antes que possamos imaginar, são aplicadas em atividades independentes e alheias às necessidades de todos. De tudo, um pouco vai para propina, um tanto para os cargos comissionados e o restante pode servir para silenciar alguém que possa vir a denunciar uma atividade ilícita.
Assim, com as mãos no dinheiro público, os soberanos têm acesso a tudo que necessitam para manter sua soberania. Em 2008 teremos mais um período eletivo e já vemos o burburinho das alianças, partido sendo cooptado aqui, políticos profissionais sendo aliciados ali. Nesta luta, usa-se de todas as armas, se dinheiro não é o bastante e os argumentos são insuficientes, então apela-se para a moralidade, então aparece a antiquada chantagem. A idéia é reunir agregados formando uma matilha bem organizada ao redor de um único “macho alfa”.
Formada a matilha, vem a hora de distribuir favores e promessas de favores, tudo financiado pelos bons e velhos cofres públicos, para garantir o sucesso da manutenção ou alcance do poder. Neste espaço tudo pode ser vendido e comprado. Os aliados mais fortes podem ser conquistados com promessas de cargos futuros ou até mesmo instantâneos, se a soberania já existir. Os aliados mais estratégicos são comprados a dinheiro vivo, estes são também os mais inteligentes, não se iludem com promessas ou com cargos, mas têm a força que conquista as massas, são os populistas, aqueles que têm o “Charme do Show” e sabem falar alto quando o argumento é fraco. Por fim, temos os ignorantes do sistema, os outros 75% da população, que não cobram caro, basta uma boa história, uma dentadura, uns óculos e algumas cestas básicas, e tudo está definido.
Nesse tabuleiro vemos que o dinheiro público está sendo bem utilizado em algumas de suas finalidades, primeiro a arte de cooptar, depois nas estratégias de governabilidade, que garantem a manutenção do poder e, por fim, quando ainda existe algo em caixa, pode ser aplicado no “bem comum”.

PODER E AUTORIDADE



O poder é a forma mais contraditória da manifestação humana. Pelo poder somos capazes de tudo, fazemos e desfazemos, nos unimos e nos afastamos. E, como nos ensina Maquiavel, destruímos vidas em busca das glórias do poderio.
O Brasil nunca soube como lidar com as manifestações de poder. Desde o Império o poder esteve atrelado à pessoas, o poder nunca foi compartilhado democraticamente. Então, dificilmente recordamos a corrente ideológica que deu poder aos poderosos, mas lembramos do nome deles e definimos o poder como atuação deste ou daquele indivíduo. Por isso, os movimentos partidários pouco funcionam no Brasil, o foco não está no grupo mas na pessoa que assume um determinado cargo.
Somos imaturos em relação à administração do poder. A influência da cristandade obrigou-nos ao silêncio, fez-nos submissos e omissos. Submissos aos poderosos instituídos por nossos feitos e omissos diante das ações dos mesmos. A moral cristã apresenta o silêncio como dom, e a submissão como glória.
Com este processo, instaurou-se o poder autoritário, um poder de mando, onde o dono do cargo é intitulado de senhor. Este se cerca de capatazes e solicita que estes façam com que o povo obedeça cegamente suas ordens. Entretanto, o capataz tem um poderio limitado pelo poder do senhor, um passo a mais e este é decapitado. Bobo o capataz que enfrenta o seu senhor.
Este modelo de poder autoritário demonstra a imaturidade do povo, que anseia por reverenciar aquele que foi colocado acima. Assim, durante o Império, o imperador era reverenciado como um semi-deus; durante a República Rudimentar os Presidentes eram ovacionados. Depois, veio-nos uma ditadura militar, e tivemos nossos direitos tolhidos, fomos calados e os militares recebiam as glorias do povo estulto.
Hoje, damos os primeiros passos de uma democracia, mas continuamos acorrentados à moral do silêncio, presos ao medo e obedientes aos desmandos do poder. Pois, mesmo o tempo tendo passado, ainda somos tietes do poder.
O que não percebemos é que pagamos o preço por nossa tietagem. Enquanto silenciamos e parabenizamos os feitos do poder, perdemos a noção de que somos nós que conferimos o poder, que somos os responsáveis pela manutenção dos poderosos. Eles não são ignorantes de sua condição, sabem que dependem de nosso aval. Entretanto, nós somos ignorantes de nosso estado e somos incapazes de promover um controle social com qualidade.

Os donos do poder


Há tempo que não discutimos temas políticos neste espaço. Durante algumas edições viemos colocando questões referentes à educação. Esperamos que estas tenham atingido às classes de educadores, que eram nosso principal foco.
Entretanto, gostaria de retomar a discussão acerca da política e das relações de poder. Esta reflexão estará girando ao redor do poder constituído, da política e do estado.
Se observarmos os agentes que aparecem como senhores da história, perceberemos que todo representante do povo que ascende ao poder, em pouco tempo encarnam também o modelo de poderio, enquanto dominação e primazia.
A democracia representativa assumida pelo Brasil, não consegue chegar a sua maturidade pelo modo com que o poder é encarado. A República (Coisa Pública) é vista como espaço de ninguém. Assim, o pessoal é colocado acima do bem comum. E o que era do âmbito comum fica à disposição de quem está no poder e este, rapidamente, aprende a distribuir privilégios aos seus agregados e amigos, tendo em vista a sua manutenção na posição de mando.
Não vemos um governante sem agregados. Entretanto, privilégio nada tem a ver com competência. O modelo brasileiro de poder está ligado ao famoso “rabo preso”. A arte de subir ao poder é a mesma arte de “prender rabos” e deixar o “rabo preso”. Ou seja, o poder, neste modelo, não é livre, mas surge como espaço de defesa de interesses, seja do poderoso ou de seus apoiadores.
Como disse Renan, senador da coisa de ninguém, terceiro homem do país, “foi a democracia que me declarou inocente”. Realmente, o espaço público é o espaço de defesas de interesses pessoais, onde o povo, para nossos poderosos “é um mero detalhe”.
Será que numa democracia madura veríamos tantos casos de nepotismo, onde incompetentes assumem cargos simplesmente por estarem no círculo de amizades do tirano?
Cremos que o povo, mero detalhe nesse sistema, deveria começar a perceber que nem sempre aquele assume um cargo tem as competências necessárias para estar lá. Competência, aqui, não tem a ver com berço, ou com laços conjugais, mas com dedicação, empenho e capacidade intelectual. Se o bem comum fosse o objetivo de tais políticos, teríamos uma máquina enxuta, eficiente e sem tantos desatinos.
Mas isso é esperar muito. Crer que uma sociedade imatura possa gerar políticos honestos, que não façam da estrutura pública um espaço para artimanhas eleitoreiras e façam jus ao que representam, é esperar que uma utopia impossível se efetive. Para que o Brasil compreenda o que vem se apresentando é preciso que ele passe por uma reeducação. E como a revolução é necessária, que ela venha pela educação, que seja uma revolução de professores.

A utilidade da filosofia na educação


A Filosofia da Educação cumpre um papel fundamental dentro da escola, enquanto detentora do processo educativo. A filosofia da educação propõe um movimento de auto-reflexão, isto é, uma postura refletida da educação, onde a educação não de se desvincular da realidade, mas se propõe a buscar seus fundamentos na práxis.
Assim, a educação se auto-avalia e é avaliada a partir de uma filosofia da educação. Esta auto-avaliação pervade todos os espaços próprios do mundo educacional e apresenta sugestões à otimização da educação enquanto processo de tomada de consciência e transformador do mundo.
A filosofia instiga um olhar crítico, nesse caso o foco deste olhar é a educação. Quando a crítica da filosofia é avaliada pela educação, surge a possibilidade de construção de um projeto educativo com bases mais sólidas. Estas bases são dadas pelo confronto que filosofia propõe, atraindo a vida ordinária para a escola.
Quando são estreitados os laços entre a vida ordinária e a escola, irrompe a possibilidade da produção de um conhecimento válido e útil. Uma escola sem crítica e sem auto-avaliação tende a afastar-se da vida, com isso aparece a produção de um conhecimento obsoleto e sem sentido prático, ou seja, surge um conhecimento para ninguém, conhecimento que enche livros, mas que não transforma o mundo nem se abre para a conscientização.
Não queremos criticar o conhecimento produzido durante a história da educação, mas chamar a atenção para a preocupação conteudista da educação brasileira, onde não há o fortalecimento da conscientização, mas a reprodução de uma estrutura mercadológica e opressora.
A filosofia da educação, além de conduzir a educação para uma auto-reflexão, tem a função libertadora e dá à educação os meios necessários para seu fortalecimento e crescimento concreto, levando os educandos à autonomia, função evidente da educação.