A VIOLÊNCIA



Existe no humano resquícios de violência. Somos constantemente violentos em nossas ações e reações. O que é uma marca da animalidade, se apresenta em nós como reação humana. A violência é uma obra da irracionalidade, seja para conseguir o que se quer ou para manter uma determinada ordem.
Nas duas situações a violência aponta para um modelo humano precário e vazio. Violência tem a ver com violação. Quando alguém é acometido pela violência percebe-se violado em sua humanidade. Por todos os lados percebemos as atitudes de violência seja na família, no trabalho ou na vida macro-social.
É comum na família tradicional o uso da animalidade para a educação dos filhos. A isso chamam de formação e educação, mas que irromperá como deformação do humano, gerando um outro ser violento. Da mesma forma que “gentileza gera gentileza”, “a violência gera violência”. Esta violência gera o medo e isto mantém tudo como queremos. Entretanto, formamos um humano violento incorrendo num ciclo repetitivo para o futuro.
No trabalho a violência aparece como competição. Quem não experimentou uma chefia incompetente. Aquele modelo de chefe que não sabe o que faz, mas que sabe muito bem manter uma ordem por meio de intervenções. Este tipo de chefia tem atitudes egóicas e vaidosas, este se mantém no poder por mecanismos ocultos ou pela manipulação salarial.
A violência mais visível e em crescente desenvolvimento chamamos de violência macro-social. Não são poucas as notícias de ações e reações de violência. Em todos os tempos a violência foi usada para a manutenção ou o domínio do poder. Na antiguidade tínhamos as guerras de expansão, recordamos o Império Romano. Na Idade Média o Tribunal da Santa Inquisição mantinha a organização vigente. Hoje, vivemos duas violências. A violência diária, decorrente das necessidades sociais (o que sempre existiu – lembramos a lenda de Robin Hood), onde aqueles que por algum motivo não possuíam algo retiravam violentamente de quem possuía. Esta violência diária acontece de modo local e bem situado, aparece no dia-a-dia. A outra violência, que incorre e suscita maiores preocupações é a violenta paz armada. Paises se armando e se preparando para uma guerra que tem em vistas a proteção de suas riquezas. As armas de uns geram medo nos outros, lançando ambos a uma falsa paz. Trata-se de uma violência de grande expressão, trata-se de uma macro-violência.Agora, o que devemos esperar de um mundo violento? Estamos num momento de passagem, onde o planeta já não suporta mais a existência humana. A sobrevivência da humanidade depende unicamente do modo com que o planeta for cuidado a partir de agora. Se nos relacionarmos com a terra na mesma relação de violência que temos uns com os outros, certamente seremos varridos deste local. A violência é utilizada pelos animais para garantir a sobrevivência. Da mesma forma o planeta utilizara dela pra garantir sua continuidade.

Hipocrisia



Nestes dias ouvimos na mídia várias vezes a palavra hipocrisia, mas não nos atinamos ao sentido real desta palavra. Se dermos uma olhadela nos termos gregos, nos depararemos com dois princípios que se unem e formam em português o que ora chamamos de hipocrisia. A primeira vista temos o termo “hipo” que significa abaixo de, em nossa língua dúzias de palavras têm este radical. Lembramos aqui a hipo-termia (temperatura abaixo do normal). O outro radical nos chama mais a atenção e é o “crisis”, que em português originou a palavra crise, mas que no grego está ligado à purificação, julgamento, acrisolamento.
O hipócrita é aquele que se coloca abaixo de qualquer julgamento. Como se ele estivesse fora daquilo que ele defende. Isto é, o hipócrita defende um sistema, mas não vive de acordo com o sistema que prega e defende. Hipocrisia é fechar os olhos para não ver, sabendo que a coisa está aí.
Quando, durante seu discurso sobre HIV/Aids, Lula falou sobre o preservativo, chamou a atenção para a hipocrisia que envolve o assunto em todos os setores que defendem os tabus da sexualidade, de modo especial a família tradicional e a Igreja.
A hipocrisia está acentada no seio de toda instituição. Pois, por questão de sobrevivência, o institucionalizado tem divergências nas aplicações de seus conceitos. De um modo mais plástico, há uma distância abissal entre a teoria e a prática, entre a proposta e a vida, entre o ideal e o real. Ou seja, somos hipócritas na medida em que dizemos uma coisa e fazemos outra.
Neste grande contexto, os não hipócritas se congregam em dois grupos, ou são a classe não-existente que é capaz de nunca se entregar a seus instintos mais básicos, ou, um grupo real, que não se deixa guiar ou não quer viver regido pelos valores de moral ou da virtude. Então, não hipócritas se dividem em dois grupos, um grupo inexistente e outro considerado “baixo”, mas que aqui consideramos autêntico.
A classe mais nobre da sociedade é constituída por hipócritas, pois é a classe que mantém hipocritamente a ordem e faz com que a sociedade tenha uma direção, mesmo que falsa, "a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude”. O homem sociável é por natureza um ser hipócrita. O homem não hipócrita está relegado à exclusão ou à morte social, por destoar do modelo pré-padronizado que mantém a ordem social. Ser hipócrita é, de certo modo, se manter bem onde se está, garantindo a estabilidade conveniente à existência no mundo. A não hipocrisia consiste em se libertar dos elementos de moral que dominam a vida cotidiana, portanto se colocar num mundo paralelo, criando uma outra realidade, regida por leis diferentes as adequadas àquele padrão.

ONG’S A SERVIÇO SISTEMA


Nos últimos anos, observamos o surgimento e expansão de diversas ong’s, grande parte com um objetivo claro: “lutar por direitos”. Surgiu ong para tudo, desde o cuidado com a preservação do meio ambiente até a defesa da cidadania. Um vasto espectro de organizações assumiu o quadro mundial.
Elas apareceram com ideal de organizar a sociedade civil. Estas organizações vinham para garantir os mínimos básicos, em muitos casos vinham para suprir as demandas sociais, responsabilidade do estado. Para ajudar auxiliar o estado, estas instituições começaram a receber benefícios como isenção de impostos, dinheiro público e a possibilidade de receber doações de pessoas e empresas, desde que todo o montante fosse investido no objetivo de existência da instituição.
Isto proporcionou crescimento das ong’s e o aparecimento do terceiro setor. Entretanto, neste contexto, moldado pelo neoliberalismo o estado passou a se omitir das demandas sociais, oferecendo ao terceiro setor a atenção com os carentes. As empresas passam a ser beneficiadas pela existência do terceiro setor, pois em nome das demandas sociais podem fazer doações às ong’s e receber do estado a isenção tributária.
Mas não bastava a isenção de impostos, as empresas queriam mais. Além de ter benefícios fiscais elas queriam impregnar sua marca, gerar mídia espontânea e receber gratuitamente espaço nobre em jornais e na televisão. Então, uniram a demanda social ao investimento de capital privado (na verdade dinheiro público, pois se trata de valor que deveria ter sido empenhando no pagamento dos impostos).
As grandes empresas, no ensejo de gastar menos e obter mais espaço na mídia, lançam seus institutos próprios, muitas vezes com o mesmo nome e logo-marca semelhante. Depois, estes institutos começam um trabalho doentio e até maluco para criar os chamados projetos sociais. Muitos até interessantes, mas alguns se formam como “Frankensteins”, pois partem de uma idéia interessante, mas como não são frutos de uma demanda local, e em alguns casos são aplicados de modo despótico nas comunidades, dificilmente se mantém ou geram bons frutos.
A responsabilidade social se apresenta como uma febre capitalista. Muito dinheiro investido, muito trabalho árduo e pouquíssimo resultado real. São os mecanismos que o neoliberalismo descobriu para manter a estagnação social. A sociedade se apresenta com um primeiro setor fraco e vulnerável, o governo, diante de um segundo setor em constante crescimento que detém o domínio do terceiro setor e faz dele seu espaço de expansão social.
Este modelo criou ong’s a serviço do neoliberalismo. Que com muita facilidade, e na busca de captar financiadores, mudam a razão de sua existência, favorecendo a manutenção das grandes empresas e garantindo a estagnação social.